Espírito Santo em busca de sua história

Dr. José Viera Camelo Filho – Zuza
Diretor do Sindicato dos Escritores-SP

Este artigo tem como ponto de partida o município do Espírito Santo (situado no Vale Médio do rio Piauí, bacia do Canindé, no sudeste do estado do Piauí) que recebeu o apelido de Ribeira do Piauí após a sua autonomia. Esta situação tem que ser superada com o retorno do nome originário deste local, tratada em outros artigos, além de abordar a questão ligada às atividades econômicas desta região. No âmbito nacional a educação entrou definitivamente na agenda de prioridades do governo e da sociedade brasileira, embora esteja faltando ações mais contundentes para alcançar os objetivos estabelecidos. O Piauí tem que pegar carona nesta agenda para melhorar sua educação e desenvolver novas atividades econômicas nos setores industriais, serviços, agricultura e pecuária, com isso, superar o “batido arenga” de Estado mais pobre e atrasado do País. Embora, possua um elevado número de municípios pobres que padece com a falta de recursos necessários para manter os serviços básicos da população como saúde, educação, saneamento e habitação. De certo, que este quadriênio o País vai continuar sofrendo os reflexos da crise econômica externa, isso inibe o desenvolvimento da economia brasileira, sobretudo nas áreas mais pobres.

Tais circunstâncias provocam a redução dos investimentos da União destinados aos municípios e as atividades produtivas, por isso, é chegada a hora de mudar tal situação. Para esta tarefa, o governo tem que convocar os setores púbicos, privados e concomitantemente envolver suas universidades (estadual, federal e particulares) e os institutos federais de educação. As agências e empresas federais como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- CAPES, Conselho Nacional de Pesquisa Científica-CNPq, Financiadora de Estudos e Projetos-FINEP, Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste-SUDENE, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas- DNOCS. A Empresa Brasileira Agropecuária-EMBRAPA, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste, os ministérios da Indústria e Comércio, Ciências e Tecnologia e das Micros e Pequenas Empresas, além de aproveitar os recursos do Programa de Aceleração do Crescimento-PAC, do Governo Federal.

Estes organismos poderão ajudar identificar e desenvolver atividades econômicas com vantagens comparativas nos ramos industriais com baixo consumo de água e pouca matéria-prima (informática, eletrônica) e serviços, incluindo a educação, saúde, comunicações e turismo. O desenvolvimento destas localidades deve contar  com mão de obra especializada, formada nas universidades e nos institutos federais e ao mesmo tempo investir de forma intensiva na educação básica,  além de melhorar a infraestrutura da região e do Estado. Este processo tem que contemplar os municípios do Médio e Alto Canindé, sobretudo aqueles situados no Médio Vale do rio Piauí. Lembrando que o Alto Canindé, região de Paulistana e seu entorno conta com grandes reservas de ferro, sendo que a extração e o beneficiamento deste minério requer o uso de moderna tecnologia sintonizada com as novas exigências ecológicas nacionais e internacionais, por outro lado, evitar o desperdício de recurso natural.

O município do Espírito Santo tem uma parcela significativa do seu território localizada nas várzeas do rio Piauí, onde a cultura de vazante (cultivo do arroz, em salinas e batata doce, mandioca e frutas como melancia, melão jerimum e abobora) vem sendo praticada, durante o período das estiagens (maio a outubro) ao longo da história. Tal prática, também ocorre nas lagoas do município de São Miguel do Fidalgo, porém esta atividade é desenvolvida em pequena escala (subsistência). Apesar do Espírito Santo, juntamente com os demais municípios atravessados pelo rio Piauí localizarem na zona climática do semiárido, área sujeita a ocorrência de estiagens periódicas (secas). Porém, a perenização do rio Piauí com a água da barrem do Jenipapo construída no município de São João do Piauí e com água dos poços artesianos e dos açudes é possível criar as condições necessárias para desenvolver a agricultura irrigada e a piscicultura. A produção agrícola desta região, inicialmente poderá atender o consumo local das creches e da alimentação escolar das cidades e povoados do Vale e dos municípios vizinhos e depois expandir a oferta destes produtos para outras regiões.

O desenvolvimento desta região requer a formação de um consórcio dos municípios situados na Vale do Piauí: São Raimundo Nonato (cidade histórica e universitária), São João do Piauí, Santa Rita, Socorro, São Miguel do Fidalgo, Espírito Santo, São José do Peixe e São Francisco e que deve identificar as vocações econômicas desta área. O segundo passo, é estabelecer convênios com os governos Federal e Estadual para consegui a formação e orientação técnica destinadas aos agricultores e ao estudo e aproveitamento dos solos, em particular das várzeas do rio Piauí que por serem argilosos apresentam rachaduras no período das estiagens. Analisar a viabilidade econômica das atividades agrícolas nestas várzeas e a logística para comercialização e distribuição da produção nos mercados consumidores.  A EMBRAPA pode realizar estudos e orientar os potenciais produtores do Vale, incluindo a possibilidade de aproveitar economicamente  a “ata Braba” encontrada em larga escala na várzea do rio Piauí.

Parcela significativa da porção leste e sul do Espírito Santo situa-se nas várzeas do rio Piauí de onde se extrai a cera de carnaúba; áreas que poderão ser usadas para desenvolver a agricultura irrigada, hortas e a piscicultura. Nisto, inclui-se a formação de granjas e a criação intensiva e extensiva de cabritos para corte e leite, inclusive produzir alimento para os animais com a palha de carnaúba após a extração do pó, matéria-prima para a produção de cera. A questão dos investimentos é importante, contudo a formação da mão de obra é fundamental. A irrigação e a criação intensiva de cabritos poderão usar a água de poços artesianos e de açudes. Já a piscicultura e cultura de irrigação nas várzeas do Vale devem utilizar a água do rio Piauí, quando for regularizada a sua perenização. Esta tarefa não é fácil, porque necessita de uma consistente articulação política das prefeituras para em conjunto elaborar um projeto com este fim. Lembrando, que um projeto com este objetivo, tem que ficar fora da agenda eleitoral e dos partidos políticos locais e assim evitar desvios de sua finalidade.

Além disso, o Espírito Santo dispõem de condições objetivas para implementar o turismo ambiental, pois a natureza presenteou o seu território com uma formação paisagística e geológica fantástica, com caldeirões, marmitas, vales e talhados (cortes nas rochas, falésias ou barreiras). O Pajeu do Piauí, também possui incríveis formações geológicas como os buracos (cavernas), na região do Brejinho e o Pé de Gente ao norte do município, locais indicados para roteiros recreativos e de estudos. O turismo rural é outra atividade que poderá ser desenvolvida nos demais municípios do Vale do Piauí, trata-se de uma forma de apresentar o meio rural e sua história aos moradores das cidades, inclusive aqueles vindo de outros estados.  O turismo ecológico e rural é uma tendência em várias regiões do País e poderá ser desenvolvida, no Espírito Santo e nos demais municípios do Vale do rio Piauí. Para tanto, é necessário montar uma estrutura mínima como construir ou reformar casas já existentes para hospedagens, pousadas, hotéis e restaurantes  e a criação dos roteiros para os visitantes.

Nisso inclui-se os meios de transportes, a formação de mão de obra, desenvolver e melhorar a gastronomia sertaneja e local. Propagar pratos como: baião de dois (arroz e feijão, cozinhados juntos), Maria Izabel, mucunzar ou mugunzar (milho e feijão feito juntos), paçoca, pipoca de milho, beiju de tapioca ou de massa de mandioca e cuscuz que poderão ser consumidos com manteiga natural, requeijão ou com carne seca, doces de caju, manga e alfenim.  Dotar as pessoas do conhecimento geológico do relevo, da história local e estadual, do espaço geográfico e ecológico. Criar os meios para dinamizar as atividades artesanais, folclóricas, a realização de festas, feiras de animais e produtos regionais. Por outro lado, não esqueceremos que o apelido de Ribeira foi um descuido imperdoável, por isso, queremos o retorno do Espírito Santo, o seu nome histórico, uma tarefa para a prefeita Irene Mendes Cronemberger, aguardamos.

 

Dr. José Viera Camelo Filho – Zuza

Diretor do Sindicato dos Escritores-SP