Toledo Machado – Herói, Mito e Epopeia

Rosani Abou Adal

O Brasil perdeu um dos nomes mais expressivos e atuantes das nossas Letras, o escritor, sociólogo, professor universitário, jornalista e intelectual Luiz Geraldo Toledo Machado. Faleceu no dia 25 de agosto [de 2010], aos 83 anos, em São Paulo. Fundador do Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo, exerceu a sua presidência em vários mandatos consecutivos.

Conheci Toledo Machado na década de 80, na antiga sede da União Brasileira de Escritores, Rua 24 de Maio, 250 – 13º andar. Foram 25 anos de amizade e convivência na diretoria do Sindicato. Adorava promover encontros, debates, homenagens, entre outras atividades. Vários foram os locais em que reuniu escritores para discutir assuntos da atualidade, em defesa da legalização da profissionalização do escritor ou para falar de Literatura, entre outros temas.

Em 2004, Toledo prestou homenagem a Jorge Medauar, no Centro Cultural Árabe-Sírio, e aproveitou para, também, homenagear Jamil Almansur Haddad. Escolheu o poema Palestina, de Jorge Medauar, e pediu que eu fizesse a leitura dele. Depois, disse-me: Escolha algum poema do Jamil e um seu para declamar. Toledo me colocou num fogo cruzado e me avisou apenas uma semana antes. Li todo o livro do Jamil e escolhi o poema Surata do Corpo Fechado. Só assim consegui me colocar no meio desses dois grandes nomes da nossa Literatura. Viajei até a Palestina e fechei o corpo para interpretar o meu poema Fertilidade.

Assim era o Toledo, decidia fazer as coisas do dia para a noite e me chamava para ajudá-lo. De repente, falava: Amanhã vamos reunir uma turma no Eduardo’s, ajude-me a convidar alguns escritores. E, no dia seguinte, lá estávamos com um grupo seleto de amigos.

Fui diretora do Sindicato dos Escritores e pude acompanhar sua luta em defesa da Lei pela regulamentação da profissão do escritor. Infelizmente nada se conseguiu e o escritor ainda não tem uma profissão regulamentada, embora seja reconhecida e conste do Código de Ocupações do Ministério do Trabalho. Esse reconhecimento foi possível graças à atuação de Toledo Machado perante o nosso Sindicato.

Colaborou durante muitos anos no Linguagem Viva. Alguns dos seus textos, infelizmente, não pude publicá-los devido ao tamanho. Estudos com mais de 40 laudas, que não cabiam nas oito páginas do jornal. Ele ficava inconformado com a não publicação e eu também. Mas pude abrigar vários artigos de sua autoria e isto me conforta. Adriano Nogueira (1928 -2004), parceiro e editor do LV, vibrava com os textos do Toledo e dizia: Tire o meu artigo para colocar o dele. Eu também abria mão dos meus textos. Fazíamos isto com muita satisfação.

Luis Toledo Machado nasceu em 14 de agosto de 1927, em São Paulo, Capital. Doutor em Letras (Literatura Brasileira), pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, com a tese Antônio de Alcântara Machado e o Modernismo. Doutor em Ciências (Sociologia e Política), pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo,com a tese Formação do Brasil e Unidade Nacional. Participou de várias bancas examinadoras da Universidade de Taubaté, da Fundação Escola de Sociologia e Política e da Escola de Comunicações e Artes da USP.

Coordenou o Encontro Nacional de Estudos Estratégicos: O Brasil e o Mundo no Século XXI, o Terceiro seminário sobre Desenvolvimento e o VI Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros (Universidade de Harvard, Cambridge, Massachusetts, nos EUA).

Publicou as teses O Herói, o Mito e a Epopeia; Antônio de Alcântara Machado e o Modernismo; e Formação Política do Brasil – A Unidade Nacional. Editou mais de 12 livros, entre ensaios literários, história, sociologia, política, contos e romance. Autor de O Preço do Futuro – um modelo da reconstrução nacional (história, 2000), Paulo Setúbal, História e Ficção (2003), Cavalo do tempo (ficção, 2001), entre outras obras.

Foi agraciado com o Prêmio José Hermírio de Morais, do Internacional Pen Club, na categoria de ensaio, referente ao ano de 1971, com o livro Antônio de Alcântara Machado e o Modernismo, e com o Prêmio APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte,1985, na categoria Literatura-Realização Cultural, em 1986.

Exerceu os cargos de presidente do Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo, de vice-presidente da União Brasileira de Escritores, de presidente do INEPE- Instituto Nacional de Estudos e Debates e de vice-presidente da Associação dos Jornalistas Profissionais Aposentados do Estado de São Paulo. Foi membro do Conselho Tecnológico do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo e da Comissão de Literatura do Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. Toledo Machado – Herói, Mito e Epopéia

Colaborou no jornal Última Hora e na Revista de Estudos Avançados/ USP. Foi redator e editor nacional da Folha de São Paulo e articulista do jornal Diário Comércio & Indústria. Luiz Toledo Machado carregou as marcas dos anos de chumbo. Quando aconteceu o Golpe Militar, ele estava em viagem ao Egito. Não pôde voltar, porque seria preso. Sem opção, foi obrigado a não retornar para o Brasil. O fato lhe causou graves consequências como a perda do emprego e do cargo de vice-presidente da UBE. Não foi preso durante a Ditadura Militar, mas o seu não retorno ao Brasil em decorrência do Golpe lhe causou transtornos para o resto da vida.

Nacionalista convicto, lutou ativamente em defesa do nosso petróleo, do nosso País e em prol dos escritores brasileiros.

A sua obra precisa urgentemente ser reeditada, porque é essencial para as nossas Letras e Culturas nacionais. Ela por si só diz tudo e não precisa de aval ou considerações outras.

Para falar sobre a importância da sua militância política, no período dos anos de chumbo até 1979 o espaço que disponho é pequeno. Reconhecer a sua importância política é um dever e uma obrigação de todos os brasileiros que lutam por um País mais digno e justo.

Não vou dizer adeus a Toledo Machado, porque escritores da sua lavra não morrem. Amigos como ele ficam para sempre em nossos corações e na nossa memória.

 

Rosani Abou Adal é escritora, jornalista, membro da Academia de Letras de Campos do Jordão e vice-presidente do Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo.

Publicado na edição nº 253 da Linguagem Viva, Ano XXI, setembro de 2010.